Brasil

Estudo mostra que crianças indígenas morrem de câncer mais do que brancas, negras e amarelas

Os dados fazem parte da Panorama da Oncologia Pediátrica, lançado por uma Ong, cuja 2a edição foi lançada e etá  acessível a qualquer cidadão na internet.

Por Claúdia Jurberg- Assessoria

SÃO PAULO – O Panorama de Oncologia Pediátrica, do Instituto Desiderata, mostra que a taxa de mortalidade em decorrência de um câncer por raça/cor entre crianças e adolescentes brasileiros tem sido bastante desigual. Estes e outros dados do cenário do câncer infantojuvenil no Brasil estão disponíveis na edição que está sendo lançada neste mês de fevereiro de 2025.

Os resultados apontam que 76 crianças e adolescentes entre 1 milhão de indígenas estão morrendo de câncer a cada ano, enquanto a taxa de mortalidade na raça branca é de 42.6/milhão, na negra é 38.9/milhão e na amarela é 14.8.

A gerente de Oncologia do Desiderata, Carolina Motta, ressalta que especialistas ainda discutem as possíveis causas das crianças e adolescentes indígenas estarem morrendo mais. Entre as suspeitas, a toxicidade maior à quimioterapia e o acesso aos centros de tratamento.

“Será que essas crianças indígenas estão conseguindo chegar aos centros de tratamento? E qual o tempo que levam para chegar? Estamos discutindo todos os aspectos com especialistas em saúde indígena”, afirma Motta.

Informações regionais

Esta é a segunda edição do Panorama de Oncologia Pediátrica e traz, pela primeira vez, informações regionais e estaduais sobre incidência, mortalidade, acesso ao tratamento e qualidade da informação do câncer infantojuvenil, acesso ao tratamento e o monitoramento da informação sobre a doença no país.

A novidade da edição 2023-2025 é a plataforma on-line e acessível a qualquer cidadão, que reúne dados, de forma qualificada e organizada, de diversos sistemas de saúde num só ambiente virtual. Os dados são oriundos do Registro Hospitalar de Câncer, do Registro de Câncer de Base Populacional, do Sistema de Mortalidade do Datasus/Ministério da Saúde e do Instituto Nacional de Câncer (INCa).

– O Panorama da Oncologia Pediátrica não apenas oferece dados atualizados, mas também proporciona análise e compreensão da realidade enfrentada por crianças e adolescentes com câncer no Brasil.

A plataforma reforça a importância de fortalecer os sistemas de informação pública, que são essenciais para o desenvolvimento de estratégias mais precisas e eficazes. Com este panorama, buscamos não só avançar na qualidade do atendimento oncológico pediátrico, mas também garantir que as políticas públicas sejam cada vez mais justas e adequadas às necessidades de quem mais precisa, destaca Ana Morato, diretora de áreas programáticas do Instituto Desiderata.

Desigualdades regionais

A nova versão mostra que a iniquidade em saúde é também regional. Enquanto a região Sudeste tem 36 hospitais habilitados para o tratamento do câncer infantojuvenil, a região Norte só conta com três e a Centro-Oeste com cinco. Estados como o Acre e Amapá não possuem nenhum centro habilitado para o tratamento do câncer infantojuvenil. Esse cenário faz com que famílias inteiras ou partidas sejam deslocadas para centros de atendimentos especializados em outras cidades, estados ou mesmo regiões. Cerca de 10% de crianças e adolescentes com câncer no Norte do país não iniciaram o atendimento e, destes, metade por óbito. No Sudeste, esse índice cai para apenas 3,2%.

Apesar de todos os avanços da medicina, a série temporal sobre a doença no Brasil apresenta estabilidade com uma taxa de mortalidade pouco acima de 40 óbitos para cada 1 milhão de crianças e adolescentes, de acordo com dados do Ministério da Saúde.

(Foto: Dra Alayde Vieira).

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