Saiba quem foi Santa Teresa d’Ávila, padroeira de cofundadora de Imperatriz
Teresa era uma mulher a frente de seu tempo.
Por Ednilson Sanches, jornalista e pesquisador
CAXIAS- Você sabia que Santa Teresa d’Ávila não morreu no dia 15 de outubro, mas no dia 4 desse mês?
Saiba a grande coincidência, de alcance mundial, que ocorreu neste dia. Teresa d’Ávila é considerada um dos maiores gênios que a Humanidade já produziu.
Mesmo ateus e livres-pensadores enaltecem sua vida e inteligência, a força persuasiva de seus argumentos, seu estilo vivo e atraente e seu profundo bom senso. (EDMILSON SANCHES)
No dia 15 de outubro de 1827 Dom Pedro 1ª oficializou o Ensino no Brasil. Em 1963 a data foi nacionalmente oficializada também como Dia dos Professores. O 15 de outubro é o dia em que se homenageia, em diversas partes do mundo, Santa Teresa d’Ávila
A santa de Ávila também é a santa da Vila. Da Vila do Frei. Da Vila de Imperatriz.
(2) A PADROEIRA – 15 de outubro é o dia de Santa Teresa d’Ávila, também chamada Santa Teresa de Jesus. A data é a do dia de sua morte, há 441 anos, em 1582. Santa Teresa é a padroeira de Imperatriz e conta-se que sua imagem foi trazida pelo frei Manoel Procópio do Coração de Maria, o fundador da cidade. Segundo a Diocese de Imperatriz, a imagem da santa que se encontra na igreja imperatrizense que leva o seu nome foi trazida pelo frade carmelita, que logo cuidou de erguer um templo próprio para Santa Teresa. Esse templo, hoje, é a igreja matriz, na avenida frei Manoel Procópio do Coração de Maria.
(3) A CIDADE – Santa Teresa nasceu em 28 de março de 1515, na cidade de Ávila, Espanha. Daí o nome com que também chamam a santa: Teresa d’Ávila, que significa Teresa da cidade de Ávila. No tempo em que viveu, chamado o “século áureo” da Espanha, Santa Teresa pôde ver seu país tornar-se um grande império, que ia além de seu continente, a Europa, e estendia-se da Argentina à Califórnia, nos Estados Unidos.
Hoje, a Espanha é um país de 506 mil quilômetros quadrados (menor que o estado de Minas Gerais) e 47 milhões de habitantes (pouco mais do que o estado de São Paulo, que tem 44,4 milhões de habitantes).
A cidade de Ávila é classificada como Patrimônio da Humanidade. Tem 231 km2 e 58 mil habitantes. Está situada a mais de 1.100 metros de altitude (dez vezes mais que Imperatriz) e é comum nevar no inverno, com ventos fortes, gerando bloqueio das rodovias. Ávila é cercada por uma muralha do século 11 — a mais bem conservada da Europa –, que mede 2 km de comprimento e tem 88 torres. Em homenagem a sua ilustre filha, há muitos templos religiosos dedicados a Santa Teresa. A Catedral de Ávila tem em seu exterior desenhos de imagens selvagens, que, segundo acreditavam, serviam para assustar invasores.
(4) A FAMÍLIA – O nome de Santa Teresa era Teresa de Cepeda y Ahumada, filha de dom Alonso de Cepeda e dona Beatriz de Ahumada. Seu avô paterno era Juan Sanches, um rico mercador judeu, admirado pelos seus dotes de administrador mas odiado por ser um “cristão-novo”, isto é, um judeu convertido ao cristianismo através do batismo, o primeiro dos sete sacramentos da Igreja Católica Apostólica Romana.
Os filhos de Juan Sanches, inclusive dom Alonso, pai de Teresa, ingressaram na nobreza. Não era a “alta” nobreza, mas uma nobreza, digamos, “classe média”. Para isso, compraram direitos de fidalguia e casaram-se com mulheres fidalgas. Santa Teresa, porém, em seus escritos, não menciona esses aspectos de nobreza da sua família. Teresa teve bastante irmãos, 10 ou 11 ao todo. Era, contudo, a mais querida.
Os pais eram tementes a Deus e ensinaram Teresa na virtude da piedade e das prendas domésticas. Ouvia muito seus pais lerem a vida de santos da Igreja. O ambiente era convidativo: noites longas de inverno, lareira e o calor da família.
Joao Rodrigues Repórter, [15/10/2023 21:23]
Essas leituras impressionaram tanta a garotinha que, aos 7 anos de idade, junto com seu irmão Rodrigo, tentou uma fuga da cidade, pois queria “ver a Deus”.
(4) A RELIGIOSA – Quando tinha 13 anos, Teresa vê morrer-lhe sua mãe, dona Beatriz, que era a segunda esposa de seu pai. Sem sua mãe, Teresa lança-se aos pés da Virgem Maria, pedindo-Lhe que seja sua mãe.
O pai a coloca no Mosteiro das Irmãs Agostinianas e, em um ano e meio que lá permanece como interna, reacende em Teresa sua vontade de servir a Deus. Aos 20 anos, Teresa foge de casa. Era o dia 2 de novembro de 1535. Entra no Mosteiro da Encarnação de Ávila. Quer ser religiosa, carmelita — coisa que o pai não aprovava. Mas Teresa sabia que o amor que ela queria não estava nem na Terra nem nos homens. Eram os Céus, era Deus a fonte provedora do amor que lhe bastava. Passou três anos em dedicada vida religiosa, que foi obrigada a largar para tratar-se, pois estava severamente doente.
O mal se agravou e em 1539 é dada como morta. Só não foi enterrada porque seu pai não deixou. Três dias depois, Teresa volta à vida e, embora paralítica, retorna ao mesmo convento em Ávila. É a São José que ela credita seu restabelecimento. Nos 15 anos seguintes (seu pai já morrera, em 1543) Teresa tem crises espirituais, resiste e, aos 39 anos, tem sua transformação mais profunda. Isso ocorre após contemplar uma imagem de Jesus Cristo cheio de feridas das lanças dos soldados. Daí o nome de Teresa de Jesus. Sua conversão é tão completa que ela rompe seus laços com a materialidade humana.
Morre a mulher. Começa a nascer a santa
(5) A CARMELITA – Aos 45 anos, em 1560, Santa Teresa ouve, numa reunião de monjas, uma sugestão meio brincalhona de fundar um convento. Contra tudo e contra todos, ela cria, em 24 de agosto de 1562, o Mosteiro São José — o nome era a lembrança do santo que lhe devolvera à vida. Os superiores carmelitas não aprovaram a iniciativa de Teresa e ela foi obrigada a voltar ao convento. Mas não descansou: no final de 1562 é aprovada a fundação e Roma dá-lhe a condição de fundadora e legisladora.
Daí em diante, até o ano de sua morte (1582), Teresa fundou 17 mosteiros para mulheres e 13 para homens. Eram os Carmelitas Descalços, expressão que lembra a observância à pobreza e à disciplina rigorosa. Os carmelitas só deixaram de andar descalços quando viram ser mais prudente estar calçados, no caso, com humildes sandálias de cordas, as mais usadas pelos mais pobres.
(6) A SANTA – Santa Teresa d’Ávila escreveu muito, orou sempre. Foram mais de 15 mil cartas e diversos livros, entre eles “Livro da Vida”, “Caminho de Perfeição”, “As Moradas”, “As Fundações”.
Em 15 de outubro de 1582, na cidade de Alba de Tormes, Teresa mudou de vida. Morreu para sobreviver nos corações e na fé dos que a ela se devotam. Em 27 de setembro de 1970 o Vaticano declarou Santa Teresa “Doutora da Igreja”. Com isso, a doutrina e espiritualidade de Santa Teresa deixaram de lhe pertencer e também deixaram de ser apenas da ordem carmelita. Foram transformados em tesouro de toda a Igreja.
(7) A DOUTORA – Santa Teresa de Ávila está entre os 33 doutores da Igreja, entre eles 3 mulheres. Foi a segunda mulher a ter esse título. A primeira foi Santa Catarina de Sena (nascida em 1347; morreu em 1380); a terceira foi Santa Teresa de Lisieux (1873—1897).
(8) A DATA – O dia 15 de outubro só se tornou o dia de Santa Teresa D’Ávila por uma coincidência. Na verdade, Teresa morreu em 4 de outubro, 11 dias antes. Entretanto, exatamente naquele dia, mês e ano (4 de outubro de 1582), aconteceu a reforma do calendário: saiu o calendário juliano, adotado pelo imperador Júlio César desde o ano 46 antes de Cristo, e entrou, com poucas modificações, o calendário gregoriano, implantado pelo papa Gregório 13. A substituição de calendários se deu porque a Igreja não estava concordando com uma incorreção no calendário anterior — que, por sua vez, substituíra com vantagem o calendário egípcio. Uma falha de cálculo fizera com que, ao longo do tempo, houvesse um erro de 11 dias.
Assim, como os dias santos da Igreja baseavam-se no calendário, poderia ocorrer que a Páscoa caísse no inverno e o Natal, no outono. O acerto no calendário foi feito e o dia 4 de outubro de 1582, quando morreu Santa Teresa, passou a ser 15 de outubro. Esse calendário é o que usamos ainda hoje.
CRONOLOGIA
1515 – Nasce santa Teresa, em 28 de março, na cidade de Ávila, Espanha.
1522 – Junto com um irmão, tenta fugir de casa, aos sete anos de idade, para “ver a Deus”.
1528 – Morre sua mãe, dona Beatriz.
1535 – Foge de casa, em 2 de novembro, e entra no Mosteiro da Encarnação de Ávila.
1538 – Sai do mosteiro, severamente doente, para tratar-se em casa.
1539 – O mal se agrava e é dada como morta. Três dias depois, volta à vida.
1543 – Morre seu pai, dom Alonso.
1560 – Ouve, aos 45 anos, sugestão para fundar um convento.
1562 – Cria, em 24 de agosto, o Mosteiro São José.
1582 – Morre aos 67 anos, em 15 de outubro, na cidade de Alba de Tormes (Espanha).
FRASES DE TERESA D’ÁVILA
“O progresso da alma não está no muito refletir, mas no muito amar.”
“A oração não é senão um ato de amor, e é insensato pensar que só se pode orar quando se dispõe de tempo e de solidão.”
“Deus tem cuidado dos nossos interesses muito mais do que nós mesmos.”
“Uma ou duas pessoas que digam a verdade valem mais do que muitas reunidas.”
“Jamais chegaremos a conhecer-nos se juntos não procuramos conhecer a Deus.”
“A companhia do bom Jesus é proveitosa demais para que nos afastemos dela. O mesmo acontece com a companhia de Sua Santíssima Mãe!”
“Quem começa a servir verdadeiramente o Senhor, o mínimo que Lhe pode oferecer é a própria vida.”
“Nada te inquiete, nada te meta meda. Tudo passa, Deus sempre permanece o mesmo. A paciência tudo consegue. Àquele que tem Deus consigo, nada há de faltar. Só Deus basta!”
QUER CONHECER UM POUCO MAIS SOBRE A PADROEIRA DE IMPERATRIZ?
Alguns livros de e sobre Santa Teresa d’Ávila (ou Santa Teresa de Jesus), da biblioteca de Edmilson Sanches:
1) “Teresa, a Santa Apaixonada” – Rosa Amanda Strausz – (Editora Objetiva, Rio de Janeiro, 2004)
2) “30 Dias com Santa Teresa de Jesus” – Padre Antônio Lúcio da Silva Lima (org.) – (Editora Paulus, São Paulo, 2001)
3) “Itinerário Espiritual de Santa Teresa de Ávila” – Frei Pedro Paulo Di Berardino – (Editora Paulus, São Paulo, 1999)
4) “‘Deixe-se Amar’ – Experiência de Deus com Teresa d’Ávila” – Frei Patrício Sciadini – (Edições Loyola, São Paulo, 2004)
5) “Quando o Coração Reza…” – (seleção de textos de Frei Patrício Sciadini) – (Editora Cidade Nova, São Paulo, 2007)
6) “As Fundações” – Santa Teresa de Jesus – (Edições Loyola, São Paulo, 2012)
7) “La Vida, Las Moradas” – Santa Teresa De Jesús (edição em castelhano) – (PML Ediciones, Madrid, 1995)
8 -) “Caminho de Perfeição” – Santa Teresa de Jesus – (Edições Paulinas, São Paulo, 1977)
9) “Livro da Vida” – Santa Teresa de Jesus – (Edições Paulinas, São Paulo, 1983)
10) “Santa Teresa” – (coleção Gigantes da Literatura Universal – Editorial Verbo, Lisboa, 1972)
A peça teatral “Teresa”, de Alexandre Dumas, não está relacionada a Teresa d’Ávila (tenho uma edição em italiano de 1880, publicada em Milão pelo livreiro C. Barbini, número 297 da Biblioteca Ebdomadaria Teatrale).
EDMILSON SANCHES.
edmilsonsanches@uol.com.br
(Foto: Arquivo).