Imperatriz

Em artigo, Edmílson Sanches relembra fundação e principais fases da AIL

 O jornalista Edmilson Sanches relembra, também, personagens da história da AIL. 

Maranhão Notícias

CAXIAS – O jornalista e pesquisador em desenvolvimento regional, Edmilson Sanches divulgou um artigo no qual detalha alguns dos principais momentos e personagens que ajudaram na fundação da Academia Imperatrizense de Letras(AIL). A entidade comemorou nessa quinta-feira(27), em plena atividade e com muitas contribuições em prol da Educação e das letras.

Sanches, que mora em Caxias, continua com ligação forte com a AIL. Ele lembra no artigo que após fundar a academia  passou a colaborar com a criação de outras academias de letras de cidades maranhenses.

Confira o artigo enviado por Sanches:

ACADEMIA IMPERATRIZENSE DE LETRAS, 30 ANOS:

UMA PÉROLA PARA IMPERATRIZ

 Nos registros de passagem do tempo, convencionou-se que 30 anos se chamam “bodas de pérola”. A Academia Imperatrizense  de Letras faz seu 30º aniversário e tem mesmo algo a ver com a pérola.

 Como se sabe, uma ostra tranquila, quieta em seu canto, não produz pérola. É preciso haver uma irritação, como uma partícula qualquer, um grão de areia, por exemplo, que invada sua intimidade e ela, ostra, a partir daí, faz de sua irritação um rica obra: envolve a partícula alienígena com uma substância nacarada, iridescente, até ao final resultar em bela e valiosa pérola.

Eu sei não dos grãos, mas das carradas de areia; não das partículas, mas das páginas com que tentaram demover-me da criação da Academia imperatrizense Letras. Quem acompanhou a Imprensa da época pôde  —  e qualquer um ainda hoje pode —  ver/saber de alguns registros que assomaram e se tornaram visíveis, como ponta de “icebergs”.

Mas eu sabia: Onde há uma sinfonia de corvos, desafinado é o rouxinol. Onde há um ajuntamento de urubus, fedorenta é a rosa.

Resultado: trinta anos depois entrega-se uma valiosa pérola aos desmotivadores e detratores…

Depois que fundei a AIL, não me neguei a atender convites de diversas cidades e mesmo a sugerir a pessoas delas no sentido de criarem sua própria Academia de Letras. Assim, fui convidado a presidir a solenidade de instalação da Academia Açailandense de Letras e posse de seus membros; depois reuni intelectuais de Santa Inês e lá criamos a Academia. Participei da criação da Academia Caxiense de Letras e fui designado para fazer o discurso de posse dos membros, em concorrido evento para toda a sociedade local. Aí se seguiram São João do Sóter, Aldeias Altas, João Lisboa, Buriticupu… e outras onde nossa boa vontade, mais que algum conhecimento, é demandada. E já há pelo menos quatro cidades à espera.

Nada mais poderoso que uma faísca que sabe que é hora de provocar incêndio…

No instante em que a AIL (Academia Imperatrizense de Letras) prepara-se para comemorar seu 30º aniversário, amanhã, lanço, como sempre, um olhar para diante e, rindo meio sem jeito cá dentro de mim, fico pensando nessas duas décadas e sete anos da AIL.

Recordo-me das buscas cartoriais, sobre existência formal ou não de uma Academia de Letras no município. Era eu no único cartório do município à época, o Cartório do 1º Ofício, na Rua Godofredo Viana, enchendo a paciência   — e o dever de ofício —  do Antônio Carlos da Mota Bandeira, do Miguel da Mota Bandeira (“in memoriam”; meu velho amigo de jogo de palavras  — a “impugna”, junto com o professor e farmacêutico-bioquímico Oscar Gavinho, lá no Bar do Riba, perto da antiga UEMA) e do Rosseny da Costa Marinho (“in memoriam”; o decano entre os tabeliães).

Recordo-me dos 13 que aceitaram vir comigo no ingente e despudorado mister e mistério de fazer cultura em uma cidade que  —  diziam —  era a “terra da pistolagem” e onde “o dinheiro corria”, o que parecia quer dizer que Imperatriz seria refratária, não porosa, contraindicada a assuntos ligados à Cultura. Valores do espírito, por aqui, só mesmo os das Igrejas  —  e olhe lá… Mas, graças a Deus, isso não era verdade, e se era, foi desmentida pelo inicial esforço conjunto dos 14 “homens de Letras”, na verdade humanistas, sensíveis às causas e cousas que, elas sim, criam, fortalecem e ainda dão brilho ao que de mais visível e forte deve ter uma sociedade: sua Identidade. Eis os nomes dos que, comigo, assinaram a ata de fundação da Academia Imperatrizense de Letras, em 27 de abril de 1991, há trinta anos:

ADALBERTO – Lembro-me do Adalberto Franklin Pereira de Castro, recebendo meio sem jeito, imbiocado (introvertido),mas sempre me apoiando como, aliás, já acontecia no movimento de organização da Imprensa (criei a AIRT – Associação de Imprensa da Região Tocantina e o SINDIJORI – Sindicato dos Jornalistas e Radialistas de Imperatriz). Adalberto, que nem o Jurivê, não pôde comparecer à reunião de fundação, mas ficou acertado que estaria com a decisão da maioria.

DOM AFFONSO – Dom Affonso Felippe Gregory (“in memoriam”) tinha aquela bonomia dos bons pastores espirituais. Sempre conversávamos —  inclusive bebericando… —  e ele apoiou de pronto a ideia de criação da AIL. Anos depois, coincidiu ter sido em uma gestão minha frente à Academia a decisão dele, explicada por carta, de se autoexcluir da Entidade, por questões de saúde e sobrecarga de serviços. )Para se ter uma ideia, Dom Affonso, além de bispo de uma grande Diocese, também era presidente da Cáritas Internacional, espécie de confederação de quase duzentas organizações humanitárias da Igreja Católica, com atuação em mais de duzentos países. A sede da Cáritas, fundada em 1897 na Alemanha, fica no Vaticano. Bastava este compromisso e haviam tantos outros, para dar-se razão ao bom Bispo, o 1º de Imperatriz, que tinha de viajar regularmente para diversos países.

EUCÁRIO – O Eucário Rodrigues (“in memoriam”) era colega de lides bancárias. Funcionário do Banco do Brasil em Imperatriz. Psicanalista, tinha fundado em São Paulo uma entidade da classe. Sempre bem-humorado

ZÉ BREVES – O José de Sousa Breves Filho era meu conhecido da Universidade (UEMA). Carioca de nascimento, foi o primeiro professor imperatrizense a concluir um doutorado. Anos depois pediu para sair da AIL e mudou-se para Fortaleza onde se aposentou por instituição de ensino do Governo Federal.

GERALDO – Também me lembro do José Geraldo da Costa, a quem “intimei” em sua casa para juntar-se a mim neste projeto — e ele, prontamente, aceitou. Geraldo e eu vivíamos nos esbarrando nas universidades UFMA e UEMA e em diversos, muitos, incontáveis eventos sociocomunitários e culturais naqueles idos dos anos 1980s.

JURIVÊ – Relembro do meu colega jornalista Jurivê de Macedo (–> Sérgio Antonio Mesquita Macedo), de supersaudosa memória, que, embora nos primeiros instantes mostrar-se relutante, e até com negativa escrita em sua coluna, não resistiu ao meu “leriado” e terminou igualmente somando-se ao projeto – vindo a somar, muito mais, como membro assíduo, produtivo e aconselhador no dia a dia da Academia. Jurivê não esteve na reunião de fundação, mas antecipou que concordaria com o que fosse decidido.

JUCELINO – O Jucelino Pereira da Silva era colega de Jornalismo; trabalhava em “O Progresso” e escrevia uma das colunas assinadas como “da Redação”, onde registrou alguns “ataques” a mim por causa da ideia de criação da Academia. Houve até quem escrevesse ao jornal dizendo que “Imperatriz não precisa de Academia; precisa é de comida e dinheiro”. Claro que respondi em um histórico texto: “De Bucho e Bolso”.

LOURENÇO – O Lourenço Pereira de Sousa foi um dos 14 que, comigo, iniciaram a Academia. Na época e sempre foi considerado um dos mais talentosos sacerdotes de Imperatriz e região. Ele e eu vivíamos escrevendo em jornais da Imperatriz daquelas décadas de 1980 e 1990. Depois Lourenço saiu da Academia e também da Igreja. Sempre discreto, destacou-se e se destaca como professor universitário.

SEREJO – Lembro-me da abordagem ao juiz Lourival Serejo, também escritor, que era meu cliente no Banco do Nordeste, e de sua pronta, imediata adesão ao projeto (ficou como meu secretário nos trabalhos iniciais).

DONA NENECA – A entusiasmada, radiante, sempre alegre escritora e radialista Neneca Motta Mello (Sebastiana Vicentina da Motta Mello; “in memoriam”) era desses espíritos sempre dispostos apesar das muitas tarefas. Vivíamos nos esbarrando em páginas de jornais e em salas de locução de rádios.

SÁLVIO DINO – o Sálvio de Jesus de Castro e Costa (Sálvio Dino) era o pesquisador e escritor de destaque e político atuante na região. Encontrávamo-nos em meu local de trabalho, em eventos políticos, culturais e sociocomunitários em Imperatriz, João Lisboa etc. Sempre disposto a colaborar, abriu as portas da sede de uma entidade municipalista que ele presidia para que, nela, a Academia realizasse reuniões enquanto não se localizasse de modo definitivo.

TASSO – O Paulo de Tasso Oliveira Assunção é uma das testemunhas oculares e auriculares de nosso trabalho. Esteve comigo no “Jornal de Imperatriz”, o primeiro diário da cidade impresso em “off-set”, criado pela dupla José Maria Quariguasi (industrial gráfico; “in memoriam”) e Edmilson Sanches, com Jurivê de Macedo como primeiro diretor de redação. Tasso Assunção prosseguiu comigo no “Jornal de Negócios” (que Jurivê de Macedo, do alto de sua autoridade técnica, dizia ser “o jornal mais bem feito do Maranhão”) e no “Jornal de Açailândia”, os quais fundei, e em “O Imparcial”, cuja sucursal dirigi em Imperatriz e região. Tasso também esteve comigo na fundação e administração da Associação de Imprensa da Região Tocantina (também o Adalberto Franklin, o Conor Farias, meu vice, o Manoel Cecílio, o Zé Geraldo…).

VITO – O Vito Milesi fui “buscá-lo” na casa dele. Igual ao Adalberto, no começo ficou assim como sem jeito com o convite, mas o tirei do saudável casulo onde ele, ex-padre, bem se havia, como professor no Ensino Médio e em Universidade (foi meu professor no curso de Direito na Universidade Federal do Maranhão). Terminou não resistindo ao meu convite e conversa e tornou-se a maior referência de dedicação, seriedade sem sisudez, compromisso e verdadeira entrega à Academia, da qual foi por diversas vezes presidente. Mantinha, sem trocadilho, religiosamente correspondência (escrita a mão) e contatos comigo, quando, “ex officio”, fui obrigado a mudar-me para Fortaleza (CE).

A partir de uma ação em uma das gestões dele frente à AIL, uma feira de livros na Praça de Fátima (segundo ele me relatava), tive a ideia de criar e institucionalizar uma “Feira de Livros”, como está em documento escrito em  uma tarde de 27‎ de ‎março‎ de ‎2003, uma ‏‎quinta-feira, ‎como parte das ações para meu segundo mandato frente à Academia. O documento foi distribuído em reunião de um mês depois, 27/04/2003, no 12º aniversário da Instituição, e a “Feira de Livros” transformou-se em “Semana Imperatrizense do Livro – SIL” e, depois, “Salão do Livro de Imperatriz – SALIMP”.

PRIMEIRA REUNIÃO – Relembro a pregação que fiz naquela 10 horas e 30 minutos da manhã de 27 de abril de 1991, na sala de projeção de uma pioneira videolocadora na rua Simplício Moreira, nº 1467, próximo à praça de Fátima, cujo proprietário era simpático à causa. Essa foi a primeira reunião formal, de fundação e coisa e tal.

SEGUNDA REUNIÃO – A segunda reunião já foi sob as bênçãos do bispo dom Affonso Felippe Gregory, que nos cedeu sua residência episcopal e também se integrou ao projeto.

PRIMEIRO ANO – O primeiro ano da AIL, completado em 1992, foi comemorado em evento no auditório do Senac, com Sálvio Dino conferenciando sobre “o perfil histórico do rio Tocantins”.

LIVALDO – De lá para cá, muita tinta rolou sobre o papel — desde há 22 anos, incluindo-se os olhares enviesados e ataques enraivecidos, todos contra mim, tudo contra a criação da Academia. Tempos depois, em bilhete de 17 linhas, o escritor Livaldo Fregona me escrevia:

— “(…) Meu velho, orgulho-me não de ser seu amigo, mas, apenas, por tê-lo conhecido. Não tenha pressa nem estranhe os invejosos; o mundo reconhecerá seu valor”.

OVÍDIO – O templo nublara, mas eu não estava só — citando o escritor romano Publius Ovidius Naso, o conhecido Ovídio, que viveu 40 anos antes e quase 20 depois de Cristo e que dizia: “(…) se os tempos estiverem nublados, estarás só”.

FÉ COM OBRAS – A certeza enfática dos adversários do projeto apequenou-se e foi engolida pelo desfilar dos dias e, nestes, a persistência, o amor, o trabalho, a fé com obras (não apenas literárias…) dos membros e colaboradores da AIL.

COUSAS E CAUSAS – “Tempus edax rerum” — “o tempo, (esse) devorador das coisas”. É Ovídio novamente, que nos alerta para (também) o que o tempo pode fazer esquecer… e, paradoxalmente, o que não se deve esquecer de fazer.

Por exemplo, fazer boas coisas, defender boas causas.

Matéria-prima, aliás, de que é feita a Academia — e da qual, aliás, são feitas as coisas que ela faz e as causas que ela defende.

Viva a Academia Imperatrizense de Letras em seus 30 anos de existência.

Verdadeiramente, uma pérola.

Edmilson Sanches

edmilsonsanches@uol.com.br

Administração – Comunicação – Desenvolvimento – História – Literatura

Palestras, cursos e consultoria.

(Fotos: Acervo Edmilson Sanches).

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *